sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Retomando o fôlego e preparando 2015 para a imersão na toca com a pílula vermelha


2015!

Poderia começar o ano alimentando o blog com um texto básico sobre doutrina, jurisprudência, ou, quem sabe, o desacerto de uma decisão judicial (aliás, absurdos nessa área não faltam como exemplo) que desagrada a comunidade jurídica e a população.

Ainda poderia comentar alguma decisão do Congresso (como a de arquivar o PL criminalizador da homofobia), a falta de recursos para o sistema penitenciário e, quem sabe - angariando muitos fãs e me tornando celebridade bolsonariana - fazendo ardorosas apologias à necessidade de recrudescimento das penas no Brasil, principalmente se eu citar a senhora Sherazade como marco "teórico" de meus argumentos. 

Não podemos esquecer do politicamente correto que se tornou vender a fórmula mágica do abolicionismo, minimalismo, mimetismo, absolutismo e os -ismos importados de cenários tão distintos em termos político-criminais que me trazem constrangimento pela forma com a qual são repetidos roboticamente pelas ditas "mentes brilhantes" da academia brasileira (talvez seja da academia de ginástica, quem sabe).  

Ah, se assim agisse, seria convidada para as mesas redondas laureadas por experts que se ocupam em salvar a humanidade do lugar de fala das confortáveis cadeiras acolchoadas de seus gabinetes espelhados e regados a lanches de final de tarde, retrato esquizoide do descompasso entre o que se respira em sociedade e o que se elabora em termos de gestão [aliás, só uma pausa para rir um pouco do/as laureado/as críticos do "senso comum", que se esquecem que a gestão jurídico e política de uma nação PERPASSA pela LEGITIMIDADE que cidadãos e cidadãs conferem aos representantes. Falar que "o povo não tem conhecimento" é desqualificar a sociedade e, pior, fomentar a crença que o direito - escrito com letra minúscula por não ser ciência - é a salvação na mão de uma elite ilustrada] e o que pulsa comunitariamente como resultado do que é o viver a as interações das pessoas. 

Que lindos mundos anestesiantes e fragmentários são esses, cada qual orbitando, de maneira autista, em torno de suas próprias justificativas epistemológicas (quem nunca escutou um/a criminólogo/a criticando um/a criminalista, um/a delegado/a criticando um/a promotor/a e por aí vai?)!!!!! O conveniente nisso consiste na eternização das críticas, sem que se perfaça um adequado diálogo a aglutinar, e não apartar, funções, demandas e necessidades. 

Por fim, poderia também destinar - como muitas celebridades nacionais - o blog e os textos para o fuzilamento da sociedade milênio de consumo, criticando a apatia reflexiva do corpo discente, afirmando que o/as estudantes não desejam ler, que gastam tempo no facebook, whatsapp, blá, blá, blá. Com isso, um armageddon jurídico armar-se-ia no sentido de condenar o ensino jurídico ao colapso e caos, encaminhando-me para a mais profunda descrença até mesmo no que exerço como profissão, algo que, sinceramente, não se coaduna à minha alma sempre positiva nesse sentido (outra pausa para compartilhar minha deficiência cognitiva em entender as pessoas que reclamam muito de estudantes e sequer têm disposição em mudar de profissão. Sou do tempo no qual o incômodo nos retira do epicentro da pedra no sapato).

Enfim, tudo isso dá prestígio, IBOPE e, em tempos virtuais - nos quais até o senso crítico parece ser uma quixotesca fábula - muitas "curtidas" no facebook, instagram, twitter etc.. Talvez, com isso, pudesse ser convidada a palestrar em um cursinho ou, quem sabe dar aula em uma sala com 350 almas afoitas em lograr aprovação em um concurso "para ganhar mais de R$20.000" (ou seja, esquecendo-se da função vital de doação republicana ao que é de todos, fruto de um estado vocacionado de espírito moralmente comprometido com a sociedade).

Ops, esqueci... Não posso dar aula em cursinho, pois não tenho voz para cantar as musiquinhas com apologias mnemônicas para que os concurseiros possam "decorar" leis. É mesmo, restrito mercado esse, trata de selecionar as celebridades, bastando ser bom de gogó, ter, talvez, um violão ou pandeiro, para que a mediocridade seja compartilhada em larga escala como objeto de enaltecimento por uma plateia que ainda não descobriu a nudez do rei. 

Enfim, poderia fazer muito com meus neurotransmissores, mas, lendo um blog de um ex-aluno, um sopro de revigorante brisa me encaminha a começar 2015 com a certeza de desejar reconduzir esse blog para conversas agradáveis, regadas a reflexões críticas. Sobretudo, ao fel com o qual sempre estou a me conduzir na implosão do que é efêmero em termos de cientificidade e dogmatismo. 

Não vim para agradar a todas a pessoas e, sinceramente, nem desejo. Mas, pensando bem, a raiva é um sentimento interessante, pois pode, ao menos, encaminhar meus desafetos para um estudo mais aprofundado. Terei, com isso, alcançado meu objetivo: abalar a estruturas que se pretendem firmar como inquebrantáveis!

Que venha 2015 com sua pulsão de vida jurídica!