quarta-feira, 21 de abril de 2010

Projeto de Lei 191 e o ctrl c da "Maria da Penha": a falta de criatividade do Legislador

Confesso que tomei um susto quando abri o arquivo com o projeto para "medidas protetivas" para o professor, porque lendo, de relance, pensei "ops, enviaram o arquivo da Maria da Penha".

Nãooooo, não foi arquivo equivocadamente enviado, pois, lendo novamente, vi: medidas protetivas para os professores!!!

Sim, sim, com direito à disciplina especial de registro de boletim de ocorrência, com o envio ao juiz para em 48 horas decidir sobre elas. Sem deixar de mencionar a possibilidade de determinação do afastamento do aluno ou da aluna do estabelecimento, bem como proibição de aproximação.

Lendo um pouco mais à frente, percebi: ctrl c + ctrl v da Maria da Penha mesmo!!!!

Então, senhoras e senhores, a legiferância se coloca como, mais uma vez, a tábua de salvação dos males da humanidade, com a diferença de não se tratar, aqui, de ação afirmativa: não se tem débito histórico com o professorado (claro que a humilhação de baixo salário e baixa qualidade de capacitação poderiam ser entendidas como tais, mas, apenas para fazer diferenciações em relação à política pública de ação afirmativa com discriminação positiva.

Tem-se a crença pia - e pífia - de resolução de conflitos estruturais com a edição de leis "híbridas", com a pretensa chancela de despenalizar, mas que encobrem enunciados repressivos, já que não deixam de envolver registro de ocorrência, boletim, juiz e toda a parafernália horrorosa de constrição de dignidade da afetividade humana.

Estou pensando aqui qual será a próxima cópia, dentro de uma total falta de criatividade dos legisladores ou, pelo menos, da ilustre pessoa que propôs isso (deixo o nome de fora por razões óbvias, apesar de aqui eu estar exercendo minha cidadania e crítica): sem critério, sem noção, sem discussão, sem debate conjugado.

CÓPIA!!! Agora nosso Legislativo faz cópias, e, quem sabe, o Judiciário fará cópias de hermenêutica na hora de julgar e nós, professores e professoras de Direito (direito, com letra minúscula), quem sabe, mais cópias faremos, adequando nossos arquivos obsoletos de aulas de Maria da Penha para falarmos em "medidas protetivas" para docentes.

Tudo é um maravilhoso mundo da cópia e da rapinagem ideológica... E olha que cópia é, por dogma, um dos tabus na escolinha, porque a "tia" (sim, começa o erro) diz que é feio, mas, ao mesmo tempo, a mesma tia que assim o diz legitima uma aberração jurídica desa natureza...

Eis o atestado cabal da falta de capacitação, capacidade, envolvimento, desenvolvimento de pais, mães, professores, professoras, educadores, educadoras, nós, eu, você, todos e todas numa questão tida como pedra de toque de todo o resto: ENSINO + AFETIVIDADE. Estamos, por via oblíqua e, "por decreto" ensinando ás crianças que não existe outra medida que não a "taca": a "taca jurídica" na tabuada do professor que não mais sabe o que fazer, dos pais que não têm o que fazer e de uma sociedade que nada quer fazer.

PS: Não estou a fim de escrever em juridiquês esse comentário... E confesso que minha língua está ferina por conta do impacto...Irei digerir e, depois, comentarei mais...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Problemas com Habermas? Vai de Frantz Fanon!

Perguntaram para mim essa semana "qual era o meu 'problema' com Habermas"...

Achei muito proveitosa tal interlocução.

Não conheço Habermas, pois, ao que me lembro, nunca fomos apresentados. Nunca frequentei alguma roda de chá ou circuito em que ele estivesse. Minha conta de água chega todo mês no valor de R$32,00 (sim, comecei a fazer xixi no box para ajudar o Planeta a escapar do vulcão na Islândia - vamos ver no que vai dar) e não encontro o telefone de Habermas para, como amigos de décadas, eu me permitir pedir a ele que pague minha conta. Ou, talvez, faça compras para mim, porque detesto, dentro da comunicabilidade, de fato, comunicar-me com o que restou de um humano automatizado em fragmentos de saber.

Não tenho, portanto, "problema com Habermas". Tenho uma séria crítica, não a ele, mas, especificamente, ao conhecimento filosófico que pretende lançar modelos teóricos para teorias sociais etc.: não tendo empiria, não conseguem dar conta do "aqui e agora" e podem não passar de meros discursos (aliás, casa bem com a ação comunicativa) projetados em cima de ideologias epistemológicas que colocam a Europa e os Estados Unidos como pólos de "sapiência", reproduzindo o colonialismo (agora, em termos doutrinários, ideológicos e, vá lá, semânticos até).

Minha ancestralidade galega e minha "brasilidade" trazem diversidade que Habermas algum pode alcançar, já que faz parte de uma "elite" que colonizou o mundo, que dividiu hemisférios e, simplesmente, irradiou paradigmas que estão tão longe daqui da Candangolândia. Talvez possamos tomar um chá (ops, ou algo brasileiro): Habermas, Fanon, Dussel, Vandana Shiva, Capra, Boaventura, Feyerabend, Harding, Jesus, sei lá!

Empiria, doce empiria, onde estás que não responde?

domingo, 11 de abril de 2010

O pé jurídico no chão...E a cabeça no Universo!

Ontem voltei a fazer o que mais gosto, advogar...

Ops, como? "Já não advogas, Alessandra?" - pensarão algumas e alguns - "Desde 1998?". Claro, claro, mas preciso ser mais explícita.

Na faculdade passava boa parte do tempo imersa na militância estudantil, pois concorri, em 1996, para o Diretório Acadêmico, encabeçando uma chapa composta apenas por mulheres. Lembro-me que, durante a campanha, fui interpelada pelo adversário que, no ápice de seu preconceito, afirmou para mim que "uma chapa de mulheres não poderia fazer muito mais do que discutir sobre cabelos e unhas".

Foi, então, que percebi, 14 anos atrás, como aquela mobilização incomodou, não só o adversário, como, também, toda a comunidade acadêmica. Isso foi muito bom porque, em certo sentido, foi o prenúncio da trajetória de me lançar na vida despojando-me de vários preconceitos...

Do diretório segui para a Defensoria do Paranoá, onde me vi atendendo as pessoas e, depois do expediente, lavando o banheiro de nosso uso pessoal (o Tribunal não oferecia). Lembro-me que, em alguns momentos, eu ia para a Defensoria de macacão jeans justamente para fazer a faxina. Nossa, que espetáculo isso! Acho que o estágio no Direito poderia contemplar a limpeza de latrinas, para que possamos olhar nossas fezes de vez em quando...

Ali fiquei por dois anos e meio, seguindo, depois, para a conciliação e, mais uma vez, inserindo-me em uma comunidade, adetrando e percebendo realidades. Mas, acima de tudo, saí um pouco do meu etnocentrismo e da arbitrariedade com que o Direito pretende formatar - a fórceps - a realidade circundante.

Encontrar pessoas e se abrir para sentir a sensibilidade alheia: falat muito isso em nosso meio, como, de fato, a "cientificidade" parece cegar algum tipo de profissional do Direito, que não olha muito além do seu umbigo...

Ontem, no atendimento, percebi o quanto somos seres sensíveis e no quanto assumimos patéticos papéis de "resolvedore(a)s" de problemas sem "pedirmos licença" para a dor dos outros e das outras.

Isso é realmente um treinamento: somos adestrados e adestradas para o fornecimento de soluções "jurídicas", em cima de uma meia dúzia de "princípios" que erigimos a uma categoria de construtos universais hábeis a reger todo um espaço de convivência (e de conflito) sem passar por um diálogo ou uma abertura com a dimensão de reconhecimento de interesses dentro de demandas individuais ou sociais. Daí, com a mesma impáfia, celebramos o império da contradita e chamamos essa "fuzarca" de argumentação, onde é a destruição do outro (parte ex adversa, enfim, hehe) é o sangue que se coloca em nossa boca.

O prestígio do sistema da contradita abandona o encontro de almas e de diálogo, porque estabelece uma oposição que nada tem de dialética: ao contrário, pretende suprimir a diferença, pelo aniquilamento de teses. Será mesmo que a vida é uma "guerrilha de teses"?

Professor Kant de Lima afirma que o mundo empírico e, mais precisamente, o fato, é arbitrário. Por que, então, insistimos na manutenção de um mundo platônico, que paira por sobre nossas cabeças e pretende dialogar com Justiça, ao mesmo tempo em que fere, apunhala e destrói a diferença?

Não sei, mas confesso que, por pensar - muito, muito - e, acima de tudo, por ser uma profissional que vem do cotidiano da militância, tenho muitas reservas (e preconceitos que preciso trabalhar) em relação ao "maravilhoso mundo-da-lua" em que podemos nos achar e perder...

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Estupro e gênero: XXY, XY, YYX, ou o que? Não importa...



Gênero, gênero!


Como pensei em materializar minha desconfiança na dualidade em algo produtivo para a sociedade?


Simples: um dia fui consultada por uma cliente que havia sofrido violência sexual. Ela havia sido agredida pelo namorado, bastante machucada. Era visível o estado de agressão, de dor. Mas, o mais interessante e absurdo foi eu saber que ela havia ido até as autoridades e, segundo relato dela, não havia sido registrado estupro, e sim atentado violento ao pudor, por conta do fato de ela ainda não ter sido operada...


Passei a discutir meus horizontes tão estreitos e, com isso, uma reflexão seguiu...


O poço sem fundo da academia que não se renova

De todas as artimanhas criadas pela prodigialidade humana, o debate acadêmica é, sem dúvida, para mim, a maior demonstração de insuperável dualidade. Um poço sem fundo nos separa de nossa vida pulsante, como se cada doutrina fosse uma bonita roupa de zíper, que vem e vai, no balanço de nossos corpos que não encontram o vestido certo para o baile de formatura.

Não nos encaixamos, e, por não nos encaixarmos, culpamos a liberdade... Mas, enfim, não nos encaixamos porque nunca procuramos a unidade que estabiliza mente e corpo.

Tal qual o Médico e o Monstro, passamos uma vida inteira de bipolaridade, debatendo-nos diante dos gritos de alerta e socorrro que o corpo dá como resposta à mente que o sodomiza.

Gritamos.

Expulsamos secreções.

Adoecemos.

Caímos, enfim, na mais pura escuridão de nossos piores pesadelos, que se alimentam do verbo soprado pela mente demente e enferma.

E a academia?

A concretudo de toda a mediocridade esquizóide: somos senhores e senhoras fecundos e fecundas de idéias, teses e teorias. Estéreis, contudo, em sensibilidade para a vivência harmônica entre a alma e o corpo.

Aliás, que alma?

Que espírito?

Não temos Deus porque Ele, sendo reduzido a uma pantomima, foi excomungado por nosso desespero em nos fazer autônomos. Excluímos do Universo, criando um outro, em cujo centro egóico, perverso e indiferente, projetamos nossa insensibilidade, para que possamos assistir, de camarote, o fim de um tempo que outrora já anunciamos.

Estamos morrendo e, com nossa morte, celebramos a vida.

Vida e morte dão-se as mãos e se abençoam, no casamento sagrado entre mente e corpo.

Salve a vida!

Salve a morte!

No eterno ciclo de vida-morte-vida, salvam-se todos à margem do purgatório!

Amém!

Senhora dos olhos vendados, tira e venda e veja quanta mentira!

Toda a vez que me deparo com um processo, tenho vontade de chorar... Chorar pelas árvores que caem para servirem de matéria-prima para as petições ctrl c + ctrl v de pessoas que se locupletam em cima das idéias dos outros.

Chorar pela arrogância com que alguns (claro que não são todos, mas, surpreendentemente, os que se colocam em minha frente) membros de Poderes se colocam acima do Bem e do Mal, fazendo valer apenas o vazio de suas almas que jazem na mais perfeita escuridão.

Não acredito que seja feita justiça... Aliás, quanto mais estudo Antrologia, mais saio da robotização que um imbecil plano normativo kantiano insiste em cadavericamente se manter. O mundo real não se opera no dever-ser porque somos, e simplesmente não devemos, ou não quermos dever: isso é a própria negação do SUJEITO em si... E, ainda por cima, em cima de puro sofrimento...

Sim, o Direito regula sofrimento, ele existe para regrar sofrimento...Vivemos como urubus, tripudiando da alteridade, zombando da dor alheia e jurando que somos os senhores e as senhoras dos destinos da humanidade!

O Direito deixou de ser a alta e alva torre de marfim... Não tem mais graça: nunca teve, mas, talvez, minha mente ainda insana tenha acreditado que, algum dia, seria possível tornar a vida de alguém mais plena por decisão judicial. Que ingenuidade achar que bonitas palavras (somente entendidas por quem se "adestra", como um poodle circense, ou talvez, uma "foca", nas "artes" secretas da retórica - quase sempre de quinta expoência). Que meus clientes sairiam satisfeitos, mesmo não entendendo "necas" do que e falado em tanta água que corre das salas e dos gabinetes..."ad argumentandum tantum", "per via de consequentiam", "data venia", "ex nunc" e "plic ploc" (esse é invenção minha, a língua do meu país de origem, não liguem).

Talvez estejamos a brincar de exercício de poder: advogados, advogadas, promotores, promotoras, juízes e juízas...

Quando encontrar com a Deusa da Justiça, pedirei a ela que tire a venda e veja quanta mentira é produzida em seu nome!!!

Do direito para a Antropologia Jurídica: o salto no abismo, da ignorância para o céu de Ícaro

Semestre passado fomos a uma aula com o Professor Roberto Kant de Lima...

Perguntei-me: existe vida após o direito? Penso que não, sinto como se estivesse anestesiada durante 12 anos da minha vida, imersa numa realidade que tenta, a fórceps e vácuo, condicionar a realidade a uma realidade por ele criada...

Criamos um monstro que nos engole todos os dias, na arrogância de nossa ignorância em relação aos sentimentos, ao humano: sim, negamos o humano em nós e, à escusa de exposição de ordálios, negamos o Outro, o tempo inteiro...

Mas existe luz, existe libertação...basta saltar, tal qual Ícaro, para um vôo em que ele, sabichão, notoriamente sabia seu destino: não haveria como resistir à liberdade do Sol!

E, como Ícaro, salto, a cada dia, para o vôo da Antropologia Jurídica, que estabeleceu paz no meu coração já tão sucateado pela migalha tormentosa do mundo normativo, que não sabe NADA, apenas o DEVER SER que-nunca-é...

Uma cliente bem diferente: epifanias do dia-a-dia

Como há tempos não fazia, fui encontrar, uns tempos aí, uma cliente no tribunal, para resolver uma pendenga que, para variar, era uma grande viagem de alguma criança que não foi sociabilizada pelos parentes e, por conta disso, atribui aos outros a tarefa de expiação de uma responsabilidade que é dos genitores.

Enfim, não vou polemizar porque estou sem paciência com pais irresponsáveis e crianças tiranas (apenas penso no futuro desse planeta na mão de mini-ditadores).

O detalhe mais que legal foi o fato de ficarmos - eu e a cliente (que, na verdade, é para lá de parente ou amiga de outras encadernações) - em pleno fórum, falando sobre o Céu, a Terra, astrologia, tarot, arcanos.

Nossa, eu não ficava tão feliz assim em um fórum chato há tempos!!!!

O processo? A audiência? Que nada, aproveitamos o tempo para a troca de proveitosas informações! Isso que realmente vale a pena, o resto, é cumprimento de tabela cármica!!! Ah, detalhe, carma no sentido de fluxo, e não na idiotice que o Ocidente transformou (ou seja, no arremedo de culpa e expiação). Será que não aprendemos a lição?

As deusas não são de Vênus nem os deuses são de Marte!


Acordei pensando numa conversa sobre dualismo, na qual as deusas (mulheres) seriam de um Planeta ligado aos segredos do Amor e da beleza (Vênus), enquanto os deuses (homens) seriam provenientes de Marte, Ares, arquétipo da guerra e da destruição.
Mais uma vez, os arquétipos reducionistas, que apelam para a colocação da mulher no espaço privado da alcova, negando-lhes a plenitude! Sim, negar a guerra às deusas é reduzir a expressão de suas essências de completude.
Lembrando, claro, que essa dicotomia está presente na estrutura arquetípica grega, porque a mitologia celta está recheada de deidades que literalmente "vão à luta". Macha, Morrighu, Cerridwen, Maeve, todas elas dignificam multiplicidade de atributos, e não o encarceramento em torno de uma proposta de sublimação dos sentimentos ancestrais relacionados à guerra.
Portanto, nada de Marte ou Vênus, somos todas vindas do Cosmos, aqui e agora!

Mitos, lendas e magias da ciência androcêntrica

Hoje estava aquecendo os motores, lendo as bibliografias de metodologia científica e relembrando a aula...

Em um dado momento, deparei-me com "surtos psicóticos" do autor do livro, dizendo que a ciência não "acredita" em magia. Daí, para ilustrar a grande descoberta, o autor em questão começou a falar do trabalho de um antropólogo bem conhecido, que estudou os ritos dos Azande (dei a dica aqui)... Fazendo referência, de maneira bem contundente, à desqualificação da magia para aquele povo...

Fiquei pensando: por onde eu começo? Pelo eurocêntrismo, pelo etnocentrismo ou pelo androcentrismo? Foram tantos "imos" que a minha mente entrou no transe dos Azande mesmo...

Como esse autor explicaria, por exemplo, dentro do "causalismo" científico, o que acontece na trajetória dual de um feixe de luz? Como explicaria, onde ninguém explica?

Como explicar as providenciais correlações entre campos quânticos, auras, chackras, onde nós, ocidentais, nunca conseguimos????

Não sei, mas fica a dica... A ciência, nos primórdios, era considerada "mágica"... A magia está no ar, no romanceamento da ditadura iconoclasta dos falsos profetas...

Afff...

Apesar de dual...sempre ela!

Uma pessoa notável...
Simone de Beauvoir, que magnífica pessoa!

Dualismos, sempre dualismos!

Um dia desses estava conversando com uma pessoa que se dizia cética, porém, partidária da Biologia Evolucionista e da chamada "ciência" causal determinista. Sim, aquela mesma galiléica-newtoniana, que se ocupa de traçar conexões de causal e consequência a partir do equacionamento e da observação fenomênica (vixe, o que e isso? Ah, simplificando, a concepção clássica de ciência, que se baseia na estrita compreensão do mundo a partir de vínculos de resultado - mas que sejam, de algum modo, captados ou captáveis pelos "métodos" tidos como aceitos).

O tema da conversa foi astrologia e herbologia... O cidadão argumentou não "acreditar" nisso. Foi então que providencialmente perguntei: "Do you believe in Nature?" Essa pergunta encerra uma petição de princípio, uma "pegadinha"...

Lembrei-me, mais uma vez do conceito de Physis dos pré-socráticos... numa compreensão de conexão radial entre indivíduos, Cosmos e Todo, aproximando-se, assim, do que alguns hoje chamam de Holismo (apesar de reconhecer que as maiores abobrinhas que já ouvi encerravam esse conceito também, coisa de mercadologia, entendem?).

Eis o ponto onde quero chegar: eu não preciso "acreditar" em astros, estrelas, abóbada celeste, propriedades do alecrim ou quaisquer outros elementos da Natureza... Estão ali, há milênios, realizando o que, para nós, seres humanos apartados da Physis, seria milagre...sobrenatural... Por isso a necessidade de religare como uma expressão de volta ao lar...

Não preciso acreditar que o boldo é ótimo, que a carqueja é excelente, que a valeriana, a beladona e o maracujá acalmam. Aliás, o simples fato da gringalhada querer patentear a Floresta Amazônica inteira já mostra que, independentemente do meu umbigo egóico existencialista sartreano, existe algo em outro subnível... Que aponta para o sentido de uma percepção de existência e de causalidade que, sinceramente, um paquímetro e uma pipeta não captam...Muita densidade, muito P = m X g para eles, dêem licença...

E por que, então, ficamos nessa mesma tecla já empoeirada, repetindo como papagaio-de-pirata as mesmices: quem sou, de onde vim e para onde vou? Meu, sentir o invisível, deixando a sensação de bem-estar entranhar-se... Eis a questão... Não se foge de quem se é...

Newton and Einstein: nice talking...

Nature and Nature's law lay hid in night. God said “Let Newton be” and all was light. It did not last: the Devil howling “Ho! Let Einstein be!” restored the status quo. After a while, playing dice, thinking they were free In the space-time they started singing “What will be, will be!”

Femininos e masculinos: a polarização da ilusão


Iludimo-nos, é bem certo, porque, desde sempre, sintetizamos o mundo numa lógica pretensamente ordenada, de natureza cerebral e mental, catalogando tudo e todos, de acordo com juízos antagônicos: sabemos do bom porque contra ele nominamos o mau...sabemos do frio porque o quente a ele se antagoniza - na verdade, antagoniza-se à ilusão de existir o frio, o quente, e tudo...

Feminismos, masculinismos, mesma dialógica da criação antípoda, que limita as possibilidades do Todo.

Preciso usar calça jeans porque a saia é feminina e a calça me coloca em patamar de igualdade???? É isso?

Se uso cabelo comprido, estou na lógica da subserviência de Eva, ou, então, na opressão de Lilith, desterrada para os confins da terra. Se os uso curtos, sou isso, aquilo, e adiante. Sou tudo, menos o que sou, em essência, porque de tão rotulada nessa dilógica imbecil, ninguém mais sabe de si como essência, porque ninguém mais sente "de Si", em si.

Aliás, o si deixou de existir porque o me impera, tangenciando o apelo da contundência bipolar da alma que se fragmentou...NÃO SOMOS PEDAÇOS DE VIDRO...por que, então, comportamo-nos como CACOS? Não seria, pois, uma estratégia para vencer um medo que apenas existe porque o ego está suplicando por um pouco mais de atenção???

O que existe depois? O que existe é o Todo em si, em mi, em todas as melodias, numa sinfonia que poucos, encarnados, sutilmente agregam...

É o se...em si...em mi.

Desabafo epifânico na crise epidêmica do ensino jurídico privatizado: a pós-modernidade acadêmica no crepúsculo da inocência na graduação em Direito

Depois de tanto tentar, consegui, finalmente, ser "demitida" da faculdade privada em que lecionava. Surpresa? Gostar de ser demitida? Tenho meus motivos, depois de quase 7 anos lá, doando minhas entranhas e sangue.

O resultado disso está no texto http://Desabafo epifânico na crise epidêmica do ensino jurídico privatizado: a pós-modernidade acadêmica no crepúsculo da inocência na graduação em Direito, que foi escrito no auge de uma crise de pânico.

Estudo analítico do tipo penal e sua ratio essendi: da teoria da identidade de Beling e Von Liszt à estruturação de um modelo explicativo





Argh, que título é esse?

Na época,fiz para impactar (na verdade, para curtir com a arrogância dos meu pares). Mas, enfim, está aí, né? Quando você lê algum texto meu antes de 2004, a sensação, conversando comigo pessoalmente, remete à idéia de bipolaridade. Sério, porque a verborréia do discurso é algo surreal.

Faço questão de dividir com todo mundo para chamar a atenção para a simplificação do discurso, apesar de reconhecer que a verborréia pode ser forjada para o deslocamento da tese para a ininteligibilidade e, a partir daí, isso ser muito usado pela "galera mala-sem-alça" para provocar bala na agulha nos tribunais superioes. Afinal, se o magistrado não entende, ele sequer tem condição de analisar e, analisando desfavoravelmente, o discurso pode ser levado para outra instância.

É a estratégia mais imbecil do mundo, mais tosca e imoral, e, por isso, o alerta para as futuras gerações: cuidado com o que e como escreve, porque isso, jovem, DECIDE A VIDA DE ALGUÉM. Deixe o EGO um pouquinho de fora...ok?

Bom, deixando de conversa...

http://www.4shared.com/file/259328124/2a1206ac/Tipo_e_tipicidade.html

Epifanias do meu dia-a-dia advocatício: "kit" sucesso profissional...



Foi muito difícil decidir qual história iria "coroar" o início das epifanias, porque são tantos os momentos de risadas, dores, irreverência, arrogância, ignorância e, sobretudo, bom humor, que ficou muito difícil saber como falaria sobre os vários relatos da minha experiência ao longo de 12 anos de carreira.

Bom, começarei de maneira caótica, falando sobre o dia em que me assustei com a lista de "material escolar" do estágio.

Claro que essa lista é fictícia, mas, dentro do meio jurídico, essencial para o futuro ou a futura profissional do Direito poder adquirir status. Hahaha...

Vejamos.

Foi em 1994, quando estava saindo da Física, acostumada a andar num confortável macacão jeans surrado, com meus lindos cachos soltos ao vento...Encontrei um estágio muito legal, cercada de pessoas legais.

O primeiro dia foi marcado pela observação dos pares, meus colegas e minhas colegas que, assim como eu, buscavam um lugar ao Sol e, com isso, desfilavam seus corpos docilizados ao som de Beethoven...

Logo de cara, meu colega de estágio falou para eu mudar de roupa, comprar unm trailler, usar meia e salto alto. Não poupou esforços em me dizer que meu cabelo precisava urgentemente de uma "escovinha" para "domar a juba", entendem?

Vendo o estereótipo surgir ali, bem à minha frente, comecei a prestar a atenção na produção em série que se dispunha no Tribunal. Foi um festival, que me permitiu montar uma lista com o kit básico para o estagiário(a) estereotipado(a):

1-metrossexualismos, claro, com o cabelo tratado à base daquela química básica, que, além de usar os animais como cobaias, prometem transformar as pessoas em algo diferente do que são. Aí eu incluiria a "armadura" jurídica (a roupa dita "formal", com o terno nada a ver com o clima tropical para os homens e a "couraça" androcêntrica para as mulheres.
2-se estiver recém-formado, ou, quase, o lindo anel de rubi, para que todo mundo saiba que você é advogado(a).
3-caneta Waterman, Mont Blanc ou, na pior das hipóteses, Parker.
4-pasta L. Vitton, Prada, enfim, algo que use pele e MATE mais animais
5-celular, ops, desculpem, I-pod, Cel-pods, tudo-pod.
6-carrão do ano, para todo mundo ver, invejar e comentar.
7-expressão facial séria, num mix de arrogância "bala-que-matou-Kennedy" com um que de sensualidade discursiva, para que o entendimento seja levado para o campo subliminar. Aí, eu aconselharia trabalhar as piadinhas de duplo sentido e testá-las no espelho, diante do seu ego.

Essa lista, confesso, chocou-me, porque, dentro desses 12 anos, penso que muito pouco mudou nos corredores dos tribunais, à exceção, claro, da incompetência, porque essa tem sido a constante numa bem bolada equação, que pode ser expressa assim:

f(c) = n.f(a) x t.f(npav), onde f(c) é a função da competência profissional, diretamente proporcional a uma função de arrogância, multiplicada pelo número de vezes que a pessoas não prestou atenção na vida.

Essa lista, contudo, serviu para que eu pudesse, ao longo da vida, ficar em paz com minha essência e, com isso, buscar minha identidade. Brinco sempre com ela, mas, na verdade, vejo que reflete o estereótipo com o qual somos vistos e vistas pelas outras pessoas e, sobretudo, por outros profissionais do conhecimento. Acho muito importante parar para observar como as pessoas vêem a figura do advogado...Será mesmo que somos deuses e deusas etéreos e etéreas? Duvido...

La cenicienta que no quería comer perdices


La cenicienta que no quería comer perdices ou "A Cinderela que não queria comer perdizes" é o nome de um livro que foi lançado na Espanha e já vendeu mais de 50 mil exemplares. O título faz alusão ao tradicional final de contos em espanhol, que acabam com a frase "foram felizes e comeram perdizes."
O livro, escrito por Nunila López Salamero e desenhado por Myriam Cameros Sierra, tenta imaginar como seria a vida de personagens dos contos de fadas no século 21.

A Cinderela espanhola do século 21 percebe que é uma mulher maltratada pela madrasta e suas irmãs, abandonada pelo pai, forçada a estar magra para caber roupas de manequim 38, e que o príncipe, depois de se tornar seu marido, era mandão e eterno insatisfeito. Então a princesa se rebela, vira vegetariana, sai do baile só de madrugada e larga o príncipe encantado. Ela também se reencontra com outros personagens de contos clássicos que decidem mudar sua vida: com por exemplo a Bela Adormecida, explica como acordou sozinha; Branca de Neve sai da depressão, deixa o Prozac(remédio ansiolítico)e resolve se bronzear até ficar morena.

As autoras mandaram o projeto a várias editoras, mas não conseguiram retorno. Só depois de terem conseguido o dinheiro para a primeira publicação com a ajuda de amigas e de associações de combate à violência contra a mulher e com o sucesso imediato, chamaram a atenção de uma grande editora espanhola, a Planeta, que publicou o texto."

Disponível em PDF: lacenicientaquenoqueriacomerperdices.pdf

Como falar sobre o feminino sem fazê-lo de um espaço de fala masculino?

A maior preocupação que tem me rondado durante esses dias de contemplação dos livros diz respeito ao famigerado "método" de pesquisa. Como pesquisar? Como ler? Como traçar percursos epistêmicos para falar das sofridas dores do feminismo?

Transito todos os dias de Feyerabend (ai, ai, que saudade da Física) a Morin, de Popper a Gramsci, mas nada, absolutamente nada me apraz, saeb por que? Porque são leituras de quem está no local de fala androcêntrico, dualista, sectário e redundantemente dual.

De que adianta falar sobre gênero e feminismo se me valho de tecnologias de pesquisa que me soterram a alma num lamaçal de percursos que desintegram minha essência? Nossa, que pobreza a indução, a deduação, o funcionalismo, o estruturalismo, os "ismos" catalográficos se meu espaço, se minha vivência traçam meu método (ou a ausência dele)?

Impressionismo? Talvez, mas coerente com o que me proponho a fazer, uma subversão quase que anômica em relação ao que foi definido, desde o Iluminismo, como métodos para apropriação de discurso, conhecimento e poder.

Honesto, honesto, muito honesto, ainda mais em se tratando da pobreza existencial que envolve a vã tentativa do Direito de se firmar (numa perna-de-pau) num campo de episthème. Qual o campo? Qual o foco? Ciência? Objeto? Auto-observação? Auto-referência legitimante? Um Direito que insiste em se apegar à forma, ao isolacionismo macarrônico de utilizar verborréia para criar realidades semânticas que pouco valem para a real compreensão do problema alheio. Quem dirá solução ou quiçá administração. Deveria ser admoestação, palavrinha xarope que se usa muito na verborréia juridiquesa.

Às vezes penso que me falta o ar que respiro quando penetro no cadafalso jurídico. Falta-me ar, sem, contudo, não me faltar chão, pois não estou no chão. Encontro-me no horizonte, entre o céu e a Terra, imersa no éter.

Mas quando todos e todas acham que viajo na maionese, eis que apareço, cada vez mais consciente, para ajudar, para assistir, para doar e, dentro disso, não necessito de julgamentos. Eles geralmente vêm de quem está chafurdando no androcentrismo, jurando ser libertário ou libertária e sensível à crítica feminista... Somos mais patriarcas do que supomos ser, a começar do acesso à propriedade, um discursinho burguês apropriado no sentido de igualdade...

Blargh, morram os condenados e as condenadas à ignorância de si. Cansei de circular entre tanta gente que não se olha no espelho e, não se olhando, não vê seu ego feio, coitado, dando pulos por um pedaço carcomido do pão da sabedoria.

Enquanto todo mundo achar que meu negócio é fazer yoga e ser purpurina, rio sozinha da imbecilidade que é o espetáculo humano da vaidade dos que colocam botox no cérebro, a pretexto de elongar mais os neurônios e facilitar as sinapses.

Rio porque sei que a queda vem para todos e todas, bastando a nós a contemplação da decadência que, ao final, traz o desespero para quem não sabe de si, a essa altura do campeonato!

Idiossincrasias epistemológicas...


A idiossincrasia do que é o humano em pleno estado de putrefação, eis um título que sempre tive vontade de colocar em um texto, mas que nunca consegui, talvez, por falta de oportunidade.

Mas hoje me sinto confortável para falar na mesmice humana da previsibilidade, a partir da noção quântica de colapso. O que é um colapso? Nada mais do que a "escolha" do elétron em se precipitar aqui, ali, ou noutro lugar, sem que nós - os e as dominadoras da vez - possamos ter qualquer idéia a respeito do lugar e da exatidão de para onde foi o bichinho.

Isso marca nossa burrice existencial em pretender saber do holos, sem, contudo, olhar a simplicidade do que é simplesmente um mar de probabilidades que coexistem em múltiplos universos.

Quanta arrogância vomitamos nas academias (ainda se fosse nas academias de ginástica, estava explicado por causa da anorexia), falando demais por não termos nada a dizer.

Falamos em subsunção, hermenêutica, fechamos o mundo plúrimo em dualidades que expõem a falácia do discurso de lisura, que esconde a ditadura da libertação, na qual o mais ardoroso membro de um clã autocrático atua no mesmo abismo existencial de uma baluarte do movimento dos excluídos.

Eis o binário 0-1: sim, sim, não, não. O que o sim e o não têm em comum? O restante da frase em que são gerados...

Hahahaha...doce ironia viver num mar de limitações quânticas, na pobreza do que se revela na academia...

De Feyerabend a Capra: uma "pancada" no método

Estudar Física tem uma grande vantagem, principalmente se for Física Quântica: metodologia anarquista passa a ser uma opção "colapsada" que vem bem a calhar numa época de crise, em que os "modelos" (ou a insistência no apego a eles) é a marca maior do desespero da academia em firmar algum tipo de discurso para a manutenção dos nichos ideologizantes.

O conforto do anti-método (reconhecendo, porém, na oposição a reprodução indireta do modelo) traz uma paulada no processo de conhecer. Principalmente se o antagonismo ataca o reducionismo com que o determinismo newtoniano defuiu força para as ciências sociais depois fazerem a farra no Positivismo comteano que até hoje dá nos nervos (hehehe, a galera do Direito bola de rir, negando, mas o "método" de pesquisa do Direito é tão (ou mais) dogmático do que qualquer medição de quantidade de movimento ou gravidade! Dogmático por não se comunicar a priori com o campo (nichos sociais, políticos, econômicos), mas, antes, pretender - nesse mesmo apriorismo - compartimentar a realidade como uma forma de gelo tenta subverter a água...

Antigamente eu via Feyerabend, Capra, David Bohm, Amit Goswami, Danah Zoahr e outros e outras físicas apenas como referência epistêmicas nas ciências "exatas" (que nada têm de exatidão ante a complexidade sub-atômica, o verdadeiro cenário invisível onde se processa a vida. Mas, agora, olhando para o Direito com as lentes fenomênicas, percebo o colorido que a discussão do anti-método, ou não-método como uma opção de método, pode trazer.

Legal...

A cansativa e esplendorosa dualidade!

Por que?

Por que?

Por que?

Não quero, não vou fazer, minha liberdade...

Blá-blá-blá...

Ou, ainda, a pós-modernidade e os influxos dos movimentos sociais em sociedades periféricas. Arghhh!!!

Chega de tanta verborréia! Engraçado como passei 9 anos fora da universidade e, quando volto, os dilemas são os mesmos, quase todos girando em torno de egos saltitantes, que encontram outros egos e, na antítese egóica de tanto estrelismo, auto-intitulam-se "academia".

Compreendo isso de um local de fala deslocado do contexto, porque percebo tanto o discurso, como a linguagem, difusa, simbólica e subliminar, parecendo quase inconsciencial (isso se realmente não for, porque a ingenuidade comportamental denota - para mim, claro - ou imbecilidade no olhar da alteridade, falta de consciência de si etc. - é, não quero rotular porque, de fato, caio no vazio dual do 1-0).

A questão que levanto é: tanta arrogância e tanta razão em si (em dó, ré, mi, quem sabe, uma sinfonia) para desginar apenas... pessoas, que pensam (vá lá, pensam que pensam porque criam e fomentam as regras do pensar em torno de si), mas que andam, batem os carros, assoam os narizes, urinam, defecam (será que o côco é mais "epistemologicamente" cheiroso? Não sei, acho que não)

Enfim, pessoas que não se desarmam, que estão prontas para o bote, que desejam ter a palavra final e que, sobretudo, iludem a si mesmos e mesmas e, dentro do vazio de seus corações, não amam...Não amam...

Métodos...mais métodos e, depois, o diálogo entre eles

Uma tipologia de métodos?

Acho que é meio reducionista falar em tipologia, empobrece a pesquisa porque pode reduzir a uma compactação das possibilidades do discurso. Mas, vá lá, os mais comuns:

•Comparativo
•Dedutivo
•Indutivo
•Hipotético-dedutivo
•Dialético
•Estatístico
•Estruturalista
•Etnográfico
•Fenomenológico
•Funcionalista
•Histórico
•Hermenêutico

Método comparativo: enfatiza o cotejo entre grupos, por meio da análise das semelhanças, bem como das diferenças entre tais elementos. É um método usado tanto para comparações de grupos no presente, no passado, ou entre os existentes e os do passado, quanto entre sociedades de iguais ou de diferentes estágios de desenvolvimento. Difere do método histórico porque contrapõe elementos para análise.

Método dedutivo: parte da justaposição e análise de proposições GENÉRICAS, com a finalidade de elaboração de uma conclusão inclusiva, de natureza PARTICULAR.

DEDUÇÃOTodo mamífero tem um coração.
Ora, todos os cães são mamíferos.
----------------------------
Logo, todos os cães têm um coração.

INDUÇÃOTodos os cães que foram observados tinham um coração.
----------------------------------------------
Logo, todos os cães têm um coração.


As críticas são muitas: método tautológico, ou seja, permite concluir, de forma diferente, a mesma coisa, podendo ser redundante, já que parte de um caráter apriorístico de seu raciocínio (partir de uma afirmação geral significa supor um conhecimento prévio). Além disso, as posições são muito dogmáticas e fechadas.


Método indutivo: parte da justaposição e análise de proposições PARTICULARES, com a finalidade de elaboração de uma conclusão MAIS AMPLA, GERAL, QUE IGUALMENTE SEJA VERÍDICA. A facilidade do método consiste na irradiação da validade das premissas (PARTICULARES) para a conclusão (GERAL). Observe a diferenciação abaixo.

DEDUÇÃOTodo mamífero tem um coração.
Ora, todos os cães são mamíferos.
----------------------------
Logo, todos os cães têm um coração.

INDUÇÃOTodos os cães que foram observados tinham um coração.
----------------------------------------------
Logo, todos os cães têm um coração.


Críticas: tautológico, ou seja, permite concluir, de forma diferente, a mesma coisa. Além disso, o salto indutivo exigiria que a observação de fatos isolados atingisse o infinito. Daí a indução cai invariavelmente no apriorismo, NA PETIÇÃO DE PRINCÍPIO.

Método DIALÉTICO: base para uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade, POIS os fatos sociais não podem ser entendidos quando considerados isoladamente, abstraídos de suas influências políticas, econômicas, culturais etc.

Por outro lado, como a dialética privilegia as mudanças qualitativas, opõe-se naturalmente a qualquer modo de pensar em que a ordem quantitativa se torne norma. Assim, as pesquisas fundamentadas no método dialético distinguem-se bastante das pesquisas desenvolvidas segundo a ótica positivista, que enfatiza os procedimentos quantitativos. Três grandes princípios:

a) A unidade dos opostos. Todos os objetos e fenômenos apresentam aspectos contraditórios, que são organicamente unidos e constituem a indissolúvel unidade dos opostos. Os opostos não se apresentam simplesmente lado a lado, mas num estado constante de luta entre si. A luta dos opostos constitui a fonte do desenvolvimento da realidade.
b) Quantidade e qualidade. No processo de desenvolvimento, as mudanças quantitativas graduais geram mudanças qualitativas e essa transformação opera-se por saltos.
c) Negação da negação. A mudança nega o que é mudado e o resultado, por sua vez, é negado, mas esta segunda negação conduz a um desenvolvimento e não a um retorno ao que era antes.

Método ESTATÍSTICO: TAMBÉM CONHECIDO como estudo de caso, consistindo na observação de determinados indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou comunidades, com a finalidade de obter generalizações a partir de uma "totalidade solidária" dos grupos, pois estuda, em primeiro lugar, a vida do grupo em sua unidade concreta, evitando a dissociação prematura dos seus elementos. São exemplos desse tipo de estudo: monografias regionais, rurais, as de aldeias e até as urbanas.

Método ESTRUTURALISTA: Para Lakatos, parte da investigação de um fenômeno concreto, atinge o nível do abstrato, POR MEIO da constituição de um modelo que represente o objeto de estudo, retornando ao concreto, dessa vez como uma realidade estruturada e relacionada com a experiência do sujeito social. O método estruturalista, portanto, caminha do concreto para o abstrato e vice-versa, dispondo, na Segunda etapa, de um modelo para analisar a realidade concreta dos diversos fenômenos.

A conceituação empregada por Gil (1988) é a seguinte:
"O termo estruturalismo é utilizado para designar as correntes de pensamento que recorrem à noção de estrutura para explicar a realidade em todos os níveis." O método camiha do concreto para o abstrato e, depois, tendo sido desenvolvido o modelo explicativo de funções, retorna-se para o caso analisado.

Método ETNOGRÁFICO: usado na Antropologia, referindo-se à análise descritiva das sociedades humanas, consistente no levantamento in locu, ou seja, pela inserção do pesquisador no ambiente de pesquisa (ANOTAÇÃO DE DETALHES).

Método FENOMENOLÓGICO: visa o dado, sem querer decidir se este dado é uma realidade ou uma aparência: haja o que houver, a coisa está aí.

Consiste em mostrar o que é dado e em esclarecer esse dado. "Interessa-lhe imediatamente não o conceito subjetivo, nem uma atividade do sujeito, mas aquilo que é sabido, posto em dúvida, amado, odiado etc." (Bochenski, 1968, p. 137.)

O intento da fenomenologia é, pois, o de proporcionar uma descrição direta da experiência tal como ela é, sem nenhuma consideração acerca de sua gênese psicológica e das explicações causais que os especialistas podem dar.

Para tanto, é necessário orientar-se ao que é dado diretamente à consciência, com a exclusão de tudo aquilo que pode modificá-la, como o subjetivo do pesquisador e o objetivo que não é dado realmente no fenômeno considerado.

Do ponto de vista fenomenológico, a realidade não é tida como algo objetivo e passível de ser explicado como um conhecimento que privilegia explicações em termos de causa e efeito, MAS, ANTES, é entendida como o que emerge da intencionalidade da consciência voltada para o fenômeno. (Bicudo, 1994, p. 18).

Método FUNCIONALISTA: enfatiza as relações e o ajustamento entre os diversos componentes de uma cultura ou sociedade, visando.
ao estudo da sociedade do ponto de vista da função das suas unidades, uma vez que considera toda atividade social e cultural como funcional ou como desempenho de funções. (averiguação da função dos usos e costumes, no sentido de assegurar a identidade cultural do grupo).

Método HIPOTÉTICO-DEDUTIVO: Parte da justaposição de problemas, que vão surgindo ao longo da pesquisa. Para a resposta, são formuladas conjecturas ou hipóteses, que deverão ser testadas ou falseadas (enquanto no método dedutivo procura-se a todo custo confirmar a hipótese, no método hipotético-dedutivo, ao contrário, procuram-se evidências empíricas para derrubá-la). Porém, nem sempre podem ser deduzidas conseqüências observadas das hipóteses. Também é necessário observar as proposições derivadas da Psicanálise ou do Materialismo Histórico.

Método HISTÓRICO: enfatiza os acontecimentos históricos ocorridos e registrados, A PARTIR de três procedimentos: Heurística, ou pesquisa de fontes (recolhimento de todas as informações disponíveis); crítica (avaliação da validade ou não das versões contraditórias); síntese (definição de dados e informações para o quadro global do que está sendo investigado). Acho problemático no Direito, porque dada nossa superficialidade, tendemos a fazer anacronismo, ou seja, olhar o passado a partir de hoje, sem a contextualização e inserção no ontem.

Método MONOGRÁFICO: TAMBÉM CONHECIDO como estudo de caso, consistindo na observação de determinados indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou comunidades, com a finalidade de obter generalizações a partir de uma "totalidade solidária" dos grupos, pois estuda, em primeiro lugar, a vida do grupo em sua unidade concreta, evitando a dissociação prematura dos seus elementos. São exemplos desse tipo de estudo: monografias regionais, rurais, as de aldeias e até as urbanas.

Método...enfim, o método!



Estilo zen...

O método é o "caminho para chegar a um fim", a senda óctupla do caminho espiritual para o Nirvana, que é a coroação da pesquisa. Plac-plac-plac, os louros dos aplausos no dia de sua apresentação (para inflar o ego).

Dentro de uma perspectiva tradicional de pesquisa, o método científico é um conjunto de regras básicas para um cientista desenvolver uma experiência a fim de produzir novo conhecimento, bem como corrigir e integrar conhecimentos pré-existentes. O método é o percurso escolhido para se realizar a pesquisa, numa espécie de linguagem sobre o caminhar feito pelo pesquisador.

Consiste em juntar evidências observáveis, empíricas, e mensuráveis, com o uso da razão. Isso é o que os pares da academia sempre falam.

Importante considerar que, do local de fala da crítica feminista, percebo a necessidade explicitar o entranhamento do monopólio masculinista na produção do conhecimento e na legitimação do discurso.

Segundo Kenneth Gergen, precisamos deslocar o desafio para o sentido da busca sobre identidade, relações humanas, concepções de sociedade e sua relação com a natureza.

Tenho como necessária a superação do dualismo nas ciências, onde se apartam sujeito e observador, pois essa dicotomia apenas revela outras, como a dicotomia masculino e feminino, que sempre deu prevalência ao monopólio masculinista na elaboração de saberes.

o discurso feminista atacaria a neutralidade valorativa masculina para a substituição de uma nova interpretação também impregnada de valor?

Sim, penso que sim, mas, num campo discursivo visível, ou seja, não se colocando como percepção igualitária, que compreende o mundo em ausência de hierarquização no conhecimento.

Assim sendo, ainda que seja motivado ideologicamente, isso vem à tona de maneira explícita e direta, e não subrecepticiamente, tal qual o discurso masculinista.

Em relação ao essencialismo, entendo que, em certa medida, não se pode reduzir todas as experiências das mulheres à compreensão de contato direto com a Natureza.

Não existiria UMA perspectiva feminista unívoca em seus propósitos de se firmar como fundamento epistemológico, dadas as matizes plúrimas igualmente válidas, por reforçarem contextualizações e desenvolvimentos históricos de grupos e pensamentos dentro do feminismo.

Isso me traz certo conforto, porque penso que não necessito traçar um percurso epistemológico preocupado em destrinchar regras e métodos, mas apenas observar os fenômenos a partir de um local de fala.

Diante de um contingente tão amplo como o âmbito feminista, quem haveria de receber “privilégios epistemológicos”, observando, dentro disso, que não se pode contar uma história verdadeira, mas histórias parciais dentro da transformação.

Achei isso interessante para particularizar a leitura para o Brasil, já que uma crítica constante diz respeito às diferenças de demandas entre o pensamento feminista estadunidense e o latino americano, principalmente em relação ao colonialismo.

A provocação me incentivou a responder situando o objeto do que estou querendo debater: a importância dos critérios de seleção na fabricação dos fatos, que é inerentemente uma atividade social que reúne a adesão ou a empatia dos semelhantes.

No caso, de quem recebeu treinamento adequado e, dentro disso, não deixa de estar numa “elite” de produção.

Qual o efeito imediato disso? Diferenciação no grau de prestígio e poder na avaliação da atividade submetida aos pares. É com essa percepção que vejo a construção de uma egrégora masculina nas ciências, dominando os critérios de acesso e avaliação das atividades de pesquisa.

Qual o ponto? Uma construção articulada em torno da idéia de fragilidade da mulher, tecida ao longo do tempo em volta da hipossuficiência biológica que se irradiou em vários nichos do conhecimento (psicanálise, medicina etc.). Uma nova percepção de metodologia:
• reconhecimento da unidade entre sujeito e objeto;
• necessidade de reflexão a respeito de como se define a objetividade;
• necessidade de contextualização dos fenômenos (para que não se ache que eles estão imersos num vácuo);
• tomada de consciência em relação às limitações que as origens pessoais e sociais impõem

Objetivo específico: o roteiro de "bolo" da pesquisa



Todo mundo fala na dificuldade de identificar os objetivos específicos do projeto, mas eles nada mais são do que a enumeração das etapas de realização da pesquisa, verdadeira "receita de bolo", a descrição do procedimento que está adotando para desenvolver o tema até chegar ao objetivo geral.

Geralmente disponho em TÓPICOS que encerram um MAPEAMENTO DA PESQUISA. Muito útil.

Qual o meu objetivo?

Continuar na fluidez da paz...

O objetivo geral de uma pesquisa relaciona-se ao que você DESEJA PRODUZIR, PROVOCAR, APRESENTAR, ANALISAR, DISCUTIR, DEBATER, em sua pesquisa.

É sua meta, a finalidade embutida no corpo da pesquisa, firmada na concisão e simplicidade na construção frasal (ou seja, o objetivo geral restringe-se a uma estrutura frasal composta de um verbo que exprima a completude da pesquisa).

Qual a sugestão?

Que você possa construir um OBJETIVO GERAL a partir de uma lista de objetivos (metas).

Que tal elaborar uma lista com uns 5 OBJETIVOS QUE SUA PESQUISA ALMEJA?

Após essa tarefa, ELABORE UM RECORTE, SINTETIZANDO O QUE PRETENDE NA PESQUISA, POR MEIO DA ELABORAÇÃO DE UM ENUNCIADO contendo VERBO NO INFINITO, INDICATICO DE AÇÃO, SEM ADJETIVAÇÃO, NA ORDEM DIRETA. A partir daí acho que é possível o início da pesquisa.

E agora, qual é a "hipótis"? A hipótese

Bom, mesmo que não seja lá muito fã de utilização de uma hipótese (somente por conta da minha veia etnográfica), acho legal falar um pouquinho sobre isso.

Hipótese é um enunciado ou afirmação que suposta, provável e provisoriamente responde ou satisfaz o problema formulado, com a finalidade de impelir um direcionamento ao trabalho desenvolvido pelo pesquisador.

A formulação de hipótese pode acarretar um desmembramento em hipóteses secundárias, que estão diretamente conectadas à formulação geral, completando-a.

Não existe uma regra para explicar a origem da hipótese a ser formulada, mas algumas fontes são bastante enriquecedoras:

a) conhecimento familiar ou o senso comum
b) observação
c) comparação com outros estudos
d) dedução lógica de aplicação de uma teoria ao caso específico
e) analogia
f) experiência pessoal, idiossincrática
g) casos discrepantes da teoria.

O que se espera de uma hipótese?

consistência lógica
simplicidade
relevância
suporte teórico
especificidade
plausibilidade
clareza
profundidade
originalidade

Tenho um problema?


Tenho vários, rsrsrs, inclusive uma prevenção em relação ao uso de um problema que se materializa numa hipótese, quando estou diante de uma questão que envolve etnografia, que é o método de abordagem que mais aprecio, em virtude de agregar a experiência à pesquisa.

Mas, enfim... O que seria um problema?

A individualização/particularização do objeto de estudo, de maneira a torná-lo recortado e específico.

O problema usualmente relaciona-se a um enunciado claro, compreensivo e operacional (LAKATOS, 2000, p. 140), materializado numa pergunta-chave para o desenvolvimento do tema a ela relacionado.

Para Barral, a função primordial do problema consiste no esclarecimento (para quem avalia o projeto) do FOCO DO TRABALHO (2007, p. 55). Dentro disso, Lakatos sugere algumas etapas para verificação problemas:

pode ser enunciado em forma de pergunta?
corresponde à harmonização entre conteúdo e forma?
constitui objeto de investigação sistemática?
corresponde a um objeto de motivação e interesse pessoal ou institucional?
oferece contribuição para a pesquisa?
ancora-se numa possibilidade de consistente revisão de literatura?

O que pesquisar?



O que é um tema?
Sobretudo, uma restrição, dentro de um Universo, de um assunto, uma questão a ser resolvida na pesquisa, um assunto a ser enfrentado.

Segundo Welber Barral trata-se de uma afirmação relacionada a determinado objeto de análise (2007, p. 29), foco de atenção do pesquisador. A escolha do tema envolve alguns procedimentos, coçmeçando por uma eliminação (dentre várias possibilidades, determinados assuntos), priorização de assuntos que, no entender do pesquisador, mereçam maior destaque, delimitação (consistente na seleção de um tópico ou de uma parte a ser abordada em relação a vários aspectos, dentre eles, a questão do tempo e espaço, abordagem psicológica, econômica, jurídica etc.

Como escolher um tema? Não existe uma receita. Pode vir desde uma abstração, ou, ainda, de uma escolha dentro da prática de atividades do pesquisador. Todos meus temas (mestrado, doutorado) vieram da minha experienciação como advogada militante nos nichos das camadas populares, principalmente nos Juizados. Não conseguiria conceber uma pesquisa em que eu nao estivesse ali, como observadora e ativista.

Muito se critica em relação a isso, mas, enfim, não me importa, porque separo neutralidade de imparcialidade. Não sou neutra porque trago a matiz de minha vivência plasmada na opção política dentro do Direito. Porém, tendo a ser imparcial quando submeto minha lente ao crivo de outras possibilidades de leitura. Acho mais honesto.